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Após mais de um ano da pandemia causada pelo coronavírus encontro-me em casa, saindo somente quando estritamente necessário e, tristemente, observo que o cenário está ainda pior do que o do ano passado.

Confesso que os mais de 370 dias passados praticamente dentro do meu apartamento começaram a mostrar sua nova face: a da nostalgia de viajar. E não precisaria ser para um lugar muito longe… me contentaria em uma longa caminhada, com o vento batendo no rosto, sem horário controlado, apenas andar sem preocupação. É claro que viajar mais longe, pegar um avião, ouvir uma língua diferente da minha, observar os costumes de pessoas que nasceram e vivem em um outro país seria também uma experiência muito revigorante. A palavra “wanderlust”em alemão é traduzida como uma vontade quase que incontrolável de viajar. Uma oportunidade de vermos a nós mesmos dentro de um contexto totalmente novo, encontrar objetos, seres e paisagens com os olhos da novidade. Encarar o mundo com a distância e a proximidade do nascimento, como se tudo nascesse diante de nós naquele momento. O movimento da curiosidade proporcionando o impulso e a motivação para seguir em frente, de novo.

Imagens: Adobe Stock

Mas o cenário atual me situa novamente. É impossível viajar quando as estatísticas mostram um aumento descontrolado de contaminações e mortes. Não somos seres isolados. Meu comportamento influencia todo o meu entorno. Minha ética e minha responsabilidade não me permitem agir em completa negação, pensando somente no meu bem estar imediato e ignorando todo o resto. Mas não é em torno disso que gira todo o conceito da vida adulta? Não se trata de saber lidar melhor com as frustrações, ter mais resiliência e pensar mais nas outras pessoas? O momento atual nos oferece uma grande oportunidade para pensarmos no amadurecimento, no tipo de pessoa que queremos ser, qual o tipo de conduta que acreditamos seja a correta. Também somos confrontados a todo instante, mais do que nunca, com questões que não são confortáveis: a efemeridade da vida, a doença, a morte.

Imagens: Adobe Stock

Não posso viajar para fora, mas o meu interior é uma fonte rica de oportunidades para a consciência do momento presente. Ao sentar em meditação eu aceito o que surge e crio um espaço interno que me dá uma sensação de estabilidade. Observo pensamentos e sensações que passam como nuvens no céu, pois tudo é efêmero. Esta é a viagem que acontece agora e é o tipo de viagem que pode nos acompanhar durante toda a vida.

Termino com uma tradução livre das “5 recomendações” de Buddha, a respeito da impermanência, e que devem ser objeto de comtemplação:

É da minha natureza envelhecer. Não há como escapar do envelhecimento.
É da minha natureza experimentar a saúde precária. Não tem como escapar da doença.

É da minha natureza morrer. Não tem como escapar da morte.

Tudo o que é querido por mim e todos que eu amo tem a natureza de mudar. Não há como escapar de ser separado deles.

Minhas ações são meus únicos verdadeiros pertences. Eu não posso escapar das consequências das minhas ações.

Minhas ações são o chão que me sustenta em pé.

Créditos:
Texto: Mariana Rossi de L. Alves
Imagens: Adobe Stock